A adição ou dependência ao exercício, também chamada
de Vigorexia ou Overtraining, em
inglês, é um transtorno no qual as pessoas realizam práticas esportivas de
forma continua, com uma valorização praticamente religiosa (fanatismo) ou a tal
ponto de exigir constantemente seu corpo sem importar com eventuais
conseqüências ou contra-indicações, mesmo medicamente orientadas.
É bastante curioso observar como as patologias mentais
ou, no mínimo, os sintomas mentais evoluem e se transformam ao longo do tempo
ou entre as diversas
culturas, mostrando-se sensíveis às mudanças
sócio-culturais. Observa-se que a prevalência das Doenças Mentais está
absolutamente associada a uma época determinada e a determinados valores
culturais.
A Vigorexia está nascendo no seio de uma sociedade
consumista, competitiva, frívola até certo ponto e onde o culto à imagem acaba
adquirindo, praticamente, a categoria de religião. A Vigorexia e, em geral os
Transtornos Alimentares exemplificam bem a influência sociocultural na
incidência de alguns transtornos emocionais.
Com toda certeza, a Vigorexia é uma das mais recentes
patologias emocionais estimuladas pela cultura, e nem foi ainda catalogada como
doença específica pelos manuais de classificação (CID.10 e DSM.IV).
A Vigorexia, mais comum em homens, se caracteriza por
uma preocupação excessiva em ficar forte a todo custo. Apesar dos portadores
desses transtornos serem bastante musculosos, passam horas na academia malhando
e ainda assim se consideram fracos, magros e até esqueléticos. Uma das
observações psicológicas desses pacientes é que têm vergonha do próprio corpo,
recorrendo assim aos exercícios excessivos e à fórmulas mágicas para acelerar o
fortalecimento, como por exemplo os esteróides anabolizantes.
As pesquisas sobre dependência (ou adicção) a
quaisquer coisas caminham, hoje em dia, através da Psiquiatria, da Psicologia
Experimental e da Neurobiologia no sentido de se identificar elementos
emocionais e biológicos que contribuem para alterar o equilíbrio do prazer
(homeostasia hedonista), levando assim à dependência ou adicção. A palavra
"adicção", em português, é um neologismo técnico que quer dizer, de
fato, "drogadicção".
O termo Vigorexia, ou Síndrome de Adônis, foi
primeiramente assim denominado pelo psiquiatra americano Harrisom G. Pope, da
Faculdade de Medicina de Harvarde, Massachusetts. Os estudos de Pope foram
publicados na revista Psychosomatic Medicine com a observação de que cerca de
um milhão de norte-americanos entre os nove milhões adeptos à musculação podem
estar acometidos pela patologia emocional. As duas rexias, Anorexia e Vigorexia
foram consideradas por Pope como doenças ligadas à perda de controle de
impulsos narcisistas.
Apesar de todas as características clínicas da
Vigorexia, vários autores não a consideram uma nova doença ou uma entidade
clínica própria mas sim, uma manifestação clínica de um quadro já amplamente
descrito; o Transtorno Dismórfico Corporal. Essa manifestação clínica separada
seria o chamado Transtorno Dismórfico Muscular (ou Vigorexia).
Vigorexia ou Síndrome de Adônis
A escravização que as pessoas das sociedades
civilizadas se submetem aos padrões de beleza tem sido um dos fatores sócio-culturais
associados ao incremento da incidência dos Transtornos Dismórficos, sejam
Corporais (associados à Anorexia e Bulimia) ou Musculares (Vigorexia).
O habitual desejável ao ser humano moderno é estar
moderadamente preocupado com seu corpo, sem que essa preocupação se converta
numa obsessão. O ideal desejável e sadio não é o padrão imposto pelas revistas
de beleza e pelos modelos publicitários mas sim, estar satisfeito consigo mesmo
e aceitar-se como é. Mas quem, na adolescência não se sentiu complexado alguma
vez, ao menos pelo tamanho de seu nariz? Quem não sofreu com a acne na puberdade?
Tais complexos acabam gerando insegurança social,
podem agravar a introversão e timidez. A atitude mais habitual, apesar de
inocente, é acreditar que a timidez e insegurança sociais seriam resolvidas
caso a pessoa fosse bela, forte, um modelo de homem perfeito, um corpo
escultural. Nasce aí a obsessão de beleza física e perfeição, os quais se
convertem em autênticas doenças emocionais, acompanhadas de severa ansiedade,
depressão, fobias, atitudes compulsivas e repetitivas (olhadas seguidas no espelho)
e que conduzem ao chamado Transtorno Dismórfico Corporal.
O termo Dismorfia Corporal foi proposto em 1886 pelo
italiano Morselli. Freud descreveu o caso do "Homem Lobo", uma pessoa
que, apesar de ter um excesso de pelos no corpo, centrava sua excessiva
preocupação na forma e tamanho de seu nariz. Ele o via horrível, proeminente e
cheio de cicatrizes.
Embora exista um grande número de pessoas mais ou
menos preocupadas com sua aparência, para ser diagnosticado Dismorfia, deve
haver sofrimento significativo e uma reiterada obsessão com alguma parte do
corpo que impeça uma vida normal. Quando esse quadro todo se fixa na questão
muscular, havendo uma busca obsessiva para uma silhueta perfeita, o transtorno
se chamará Vigorexia ou Transtorno Dismórfico Muscular.
A busca de um corpo perfeito e musculoso a qualquer
preço começa, então, a ser tratada como uma patologia. A Vigorexia, ou Síndrome
de Adônis, é um transtorno emocional assim denominado pelo psiquiatra americano
Harrison G. Pope da Faculdade de Medicina de Harvard, Massachusetts (veja a
entrevista com Pope em Notícias PsiqWeb).
Os estudos de Pope foram publicados na revista
Psychosomatic Medicine, e constaram da observação de adictos à musculação, e
comprovaram que entre mais de 9 milhões de norte-americanos que freqüentam
regularmente academias de ginástica, cerca de um milhão poderia estar acometido
por este transtorno emocional.
A Vigorexia, como vimos pode ser sinônimo de Dismorfia Muscular (ou Transtorno Dismórfico Muscular) e não é casualidade que o nome Vigorexia rime com Anorexia.
A Vigorexia, como vimos pode ser sinônimo de Dismorfia Muscular (ou Transtorno Dismórfico Muscular) e não é casualidade que o nome Vigorexia rime com Anorexia.
As duas doenças promovem a distorção da imagem que os
pacientes têm sobre si mesmos: os anoréxicos nunca se acham suficientemente
magros, os Vigoréxicos nunca se acham suficientemente musculosos. Ambas podem
ser consideradas como "patologias do narcisismo". Alguns autores já
estão atribuindo o aparecimento da Vigorexia à moda e à um estilo de vida tipo
"vigilante da praia".
Não se trata, simplesmente, de fazer exercícios para
receber o diagnóstico de Vigorexia. Os exercícios orientados, com indicação
médica ou terapêutica, recreativos e/ou de condicionamento continuam sendo
muito bem vindos na medicina e na psiquiatria.
Entretanto, as pessoas que treinam exaustivamente, não
apenas para se sentirem bem, mas para ficarem estupendos e perfeitos, são
sérios candidatos ao diagnóstico de Vigorexia. Normalmente essas pessoas estão
dispostas a manter uma dieta rigorosa, a tomar fármacos e a treinar duro para
conseguir seu objetivo. Elas perdem a noção de sua própria corporeidade e nunca
param ou ficam satisfeitos.
Os sintomas da Vigorexia se evidenciam pela obsessão
em tornar-se musculosos. Essas pessoas olham-se constantemente no espelho e,
apesar de musculosos, podem ver-se enfraquecidos ou distantes de seus ideais.
Sentirem-se assim "incompletos", faz com que eles invistam todas as
horas possíveis em exercícios e ginásticas para aumentar sua musculatura.
Es difícil estabelecer limites entre um exercício
saudável e um exercício obsessivo, mas é bom lembrar que os vigoréxicos, além
da musculação continuada, comem de forma atípica e exagerada. Esses pacientes
se pesam várias vezes por dia e fazem continuadas comparações com outros
companheiros de academia. A doença vai derivando num quadro
obsessivo-compulsivo, de tal forma que eles se sentem fracassados, abandonam
suas atividades e se isolam em academias dia e noite.
Alguns anoréxicos podem chegar a ingerir mais de 4.500
calorias diárias (o normal para uma pessoa é 2.500), e sempre acompanhado por
numerosos e perigosos complementos vitamínicos, hormonais e anabolizantes. Tudo
isso é feito com o propósito de aumentar a massa muscular, mesmo tendo sido
alertados quanto aos graves efeitos colaterais desse estilo de vida.
A Vigorexia deve ser considerada um transtorno da
linhagem obsessivo-compulsiva, tanto pela obsessão em musculatura, pela
compulsão aos exercícios e ingestão de substâncias que aumentam a massa
muscular, quanto pela fragrante distorção do esquema corporal.
Todavia, apesar de ser clinicamente característica, a
Vigorexia não está ainda incluída nas classificações tradicionais de
transtornos mentais (CID.10 e DSM.IV), embora possa ser considerada uma espécie
de Dismorfia Corporal, já que também é conhecida com o nome de Dismorfia
Muscular.
Personalidade da Vigorexia
Podemos encontrar, entre portadores de Vigorexia,
pessoas que só buscam a figura perfeita, influenciadas por modelos culturais
atuais, ou esportistas que querem obsessivamente chegar a ser os melhores,
exigindo insensatamente de seu organismo até sua meta ser alcançada.
Recentemente temos visto também, entre os vigoréxicos, pessoas portadoras de
personalidade introvertida, cuja timidez ou retraimento social favorecem uma
busca do corpo perfeito como compensação aos sentimentos de inferioridade.
Estas pessoas possuem alguns traços característicos de
personalidade, costumam ter baixa autoestima e muitas dificuldades para
integrar-se socialmente, costumam ser introvertidas e podem, com freqüência,
rejeitar ou aceitar com sofrimento a própria imagem corporal. Em alguns casos,
a obsessão com o próprio corpo se parece muito com o mesmo fenômeno observado
na anorexia nervosa.
O fisiculturismo é um dos esportes que mais comumente
se relaciona com este tipo de transtorno, mas isso não significa que todos
fisiculturistas tenham Vigorexia. Os vigoréxicos praticam seus esportes e
ginásticas sem levar em conta ou sem se importarem com as condições climáticas,
condições físicas limitadoras ou mesmo inadequações circunstanciais do
dia-a-dia, chegando a sentirem-se incomodados ou culpados quando não podem
realizar essas atividades.
Os critérios de diagnóstico para a Vigorexia ainda não
estão claramente estabelecidos por tratar-se de um transtorno tornado freqüente
mais recentemente, possivelmente depois da última edição do CID.10 e DSM.IV,
portanto, ainda não reconhecido como um uma doença clássica e característica
pelas classificações internacionais.
Conseqüências da Vigorexia
Uma das conseqüências da vigorexia ou overtraining,
dizem respeito ao excesso de treinamento e às reações corporais que avisam, por
assim dizer, que algo está errado. São reações semelhantes ao estresse tais
como: insônia, falta de apetite, irritabilidade, desinteresse sexual, fraqueza,
cansaço constante, dificuldade de concentração entre outras.
Além da obsessão com o corpo perfeito, a Vigorexia
também produz uma importante mudança nos hábitos e atitudes dos pacientes,
notadamente na questão alimentar. Até a mínima caloria ingerida será
contabilizada e medida com máxima atenção, pois a beleza corporal dependerá
disso. A vida do anoréxico gira em torno dos cuidados com seu corpo, sua dieta
é minuciosamente regulada, eliminando-se totalmente as gorduras e, ao
contrário, consumindo-se excessivamente as proteínas. Esse desequilíbrio
alimentar acaba por sobrecarregar o fígado, obrigando-o a desempenhar um
trabalho extra.
A Vigorexia causa problemas físicos e estéticos, como
por exemplo, a desproporção displásica, também entre o corpo e cabeça,
problemas ósseos e articulares devido ao peso excessivo, falta de agilidade e
encurtamento de músculos e tendões.
A situação se agrava quando surge o consumo de
esteróides e anabolizantes com o fim de conseguir "melhores
resultados". O consumo destas sustâncias aumenta o risco de doenças
cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais, diminuição do tamanho
dos testículos e maior propensão ao câncer da próstata.
Emocionalmente, segundo estudos de Pope, a Vigorexia
pode ter como conseqüência um quadro de Transtorno Obsessivo-conpulsivo,
fazendo com que os pacientes se sintam fracassados e abandonem suas atividades
sociais, inclusive de trabalho, com o propósito de treinar e exercitar-se sem
descanso.
Costuma haver algum grau significativo de
comprometimento social e/ou ocupacional nos pacientes portadores de Vigorexia,
e sua qualidade de vida pode ser agravada ainda por procedimentos
potencialmente iatrogênicos e onerosos, como tratamentos cirúrgicos e
dermatológicos desnecessários.
Sintomas e Patologia da Vigorexia
Psiquiatricamente o quadro mais diretamente associado
à Vigorexia é a chamada Dismorfia Muscular (ou Transtorno Dismórfico Muscular),
uma patologia psíquica das pessoas excessivamente preocupadas com a própria
aparência, constantemente insatisfeitas com seus músculos e continuadamente em
obsessiva busca da perfeição.
O sintoma central parece ser uma distorção na
percepção do próprio corpo e deste sintoma decorrem os demais, como por
exemplo, a obsessão pelos exercícios e dietas especiais. Esse tipo de sintoma
básico (percepção distorcida do próprio corpo) também é o sintoma principal dos
transtornos alimentares.
Mangweth e cols, compararam 27 homens com diagnóstico
de transtorno alimentar (sendo 17 com anorexia nervosa e 10 com bulimia
nervosa), com 21 atletas masculinos e 21 homens normais não-atletas, usando um
teste computadorizado da imagem do corpo, o "matrix somatomorphic".
Quando era pedido para todos eles escolherem o corpo ideal que gostariam de
ter, os homens com transtornos alimentares selecionaram uma imagem com a
gordura de corpo muito próxima àquela escolhida pelos homens atletas e do grupo
de controle.
Entretanto, havia grande diferença entre esses grupos
quanto à percepção da imagem corporal, principalmente no tanto de gordura que a
pessoa acredita ter. Os homens com transtornos alimentares se percebiam ser
quase duas vezes mais gordos que realmente eram, e as pessoas do grupo controle
não mostraram nenhuma tal distorção. Estes resultados foram muito semelhantes
aos estudos realizados com mulheres portadoras de anorexia e bulimia, as quais
também mostram uma percepção anormal da gordura corporal.
Há, nos vigoréxicos, uma inclinação patológica para o
que se considera o protótipo do homem moderno, supostamente (e erroneamente,
segundo pesquisa de Pope) desejável pelas mulheres. Há uma busca obsessiva em
se tornar o modelo de homem, com um corpo fibroso, definido, musculoso, e
devidamente glorificado pela televisão, pelo cinema, pelas revistas e
passarelas de moda. A Vigorexia representa bem a sociedade onde "uma
imagem vale mais que mil palavras", tornando os homens obcecados por seus
corpos perfeitos.
A mesma preocupação e distorção com o esquema corporal
constatado na Anorexia observa-se na Vigorexia. Na Anorexia as pacientes -
geralmente mulher - acham-se ainda gordas, apensar de notavelmente magras e, na
Vigorexia, acham-se fracas, apesar de notavelmente musculosas.
O problema é mais comum ter início na adolescência,
período onde, naturalmente, as pessoas tendem a ser insatisfeitas com o próprio
corpo e se submetem exageradamente aos ditames da cultura. Na adolescência
existe uma pressão para as meninas se manterem magras e uma cobrança para que
os meninos fiquem fortes e musculosos. A importância da identificação da
Vigorexia precocemente, é no sentido de evitar que os adolescentes façam uso de
drogas para obter os resultados desejados (ou fantasiados).
A Dismorfia Muscular é uma espécie de subdivisão de um
quadro mais abrangente chamado de Transtorno Dismórfico Corporal, definido como
uma preocupação com algum defeito imaginário na aparência física numa pessoa
com aparência normal A Dismorfia Muscular seria uma alteração na percepção do
esquema corporal, específica da estética muscular do corpo e não um defeito na
percepção corporal imaginário qualquer. Os quadros mais comuns no Transtorno
Dismórfico envolvem, principalmente, preocupações com defeitos faciais ou
outras partes do corpo, cheiro corporal e aspectos da aparência. Quando diz
respeito à visão distorcida e irreal da estética muscular falamos em Dismorfia
Muscular.
O DSM.IV diz que a característica essencial do
Transtorno Dismórfico Corporal (historicamente conhecido como Dismorfofobia) é
uma preocupação com um defeito na aparência, sendo este defeito imaginado ou,
se uma ligeira anomalia física está realmente presente, a preocupação do
indivíduo é acentuadamente excessiva e desproporcional.
Características Comuns da Anorexia e da Vigorexia
1. Preocupação exagerada com o próprio corpo
2. Distorção da Imagem Corporal
3. Baixa autoestima
4. Personalidade Introvertida
5. Fatores sócio-culturais comuns
6. Tendência a automedicação
7. Idade de aparecimento igual (adolescência)
8. Modificações da dieta
1. Preocupação exagerada com o próprio corpo
2. Distorção da Imagem Corporal
3. Baixa autoestima
4. Personalidade Introvertida
5. Fatores sócio-culturais comuns
6. Tendência a automedicação
7. Idade de aparecimento igual (adolescência)
8. Modificações da dieta
Anorexia
Autoimagem Obeso
Automedicação laxantes, diuréticos
Sexo Feminino
|
Vigorexia
Autoimagem de fraco
Automedicação anabolizantes
Sexo Masculino
|